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Voices inside Pictures

Voices inside Pictures

06
Jul22

#4. Fake Palindromes

meialaranjainteira

Picture: Brooke Shaden,  "The Person in the Reflection", self-portrait April 2021

Voice inside: Andrew Bird – Fake Palindromes – Andrew Bird & the Mysterious Production of Eggs, 2005 (https://www.youtube.com/watch?v=l01rGqgzHLQ)

Brooke Shaden Self portrait.jpg

Quantos de nós ousamos ser apenas e só aquilo que somos, sempre?

Quantos de nós fincamos pé no que somos ao sermos lidos de trás para a frente e da frente para trás? Por mais do que uma pessoa? Em mais do que um momento?

Não espelharemos também sombras e reflexos daqueles marcam em nós presença assídua e constante? Não construiremos parte do que somos nas vivências, nos encontros e nos desencontros que vamos tendo? Eu sim. Consigo identificar influências externas nas minhas mudanças de rumo, nas consolidações do que sou agora e no abandono de perspetivas em que já me revi. Melhor: Consigo entender hoje que a minha perceção daquelas interações, naquele determinado espaço temporal, me conduziram a escolhas – mais ou menos conscientes - que me trouxeram à pessoa que sou hoje. E isto não me volatiza, mas adensa-me. Sobretudo na consciência dos ganhos e no desapego das perdas.

É sobretudo na relação que estabeleço com as pessoas que me edifico – e esta é uma das principais razões para eu gostar delas, das pessoas… mesmo das que me trazem irritação, desespero ou impaciência.  E das pessoas que me fizeram - ou me fazem – há-as com diferentes pesos e periodicidades: as constantes, as intermitentes e as ‘one hit wonder’ -  que influíram no meu percurso uma única vez, por minha vontade ou por decreto do acaso.  

...

Já te disse, mais do que uma vez, que és das pessoas mais ricas que conheço. Mas talvez não te tenha explicado o conceito de riqueza associado à gaveta em que te arrumei. És uma pessoa rica na miríade de agitações que provocas em mim. És intenso, desafiante e raro. E provocas-me sem despenderes muita energia nisso.

Na tua calma aparente, agitas a minha mente – e, às vezes o meu corpo, não me vou enrolar em falso pudor - de uma forma absolutamente incrível. Agigantas-me perspetivas, em vários domínios, e eu tomo consciência da minha pequenez. Sem dares por isso, levantas questões dentro me mim sobre a minha forma de experienciar o mundo.

Às vezes desesperas-me na tua inflexibilidade. Na forma como me despes das capas com que me cubro – ou cobria, porque já sei que não vale a pena. Às vezes angustias-me porque não quero que me leias de uma determinada forma, e tu insistes nisso. Preferia só que te deixasses ler. E isso tu não fazes.

E é por isso, que às vezes – mas mais hoje – queria mesmo era perfurar a tua cabeça. Para me esgueirar lá para dentro e beber mais de dentro de ti. Dos sítios onde não me permites.

Talvez pudesses sentir-me aí. Assim como à ânsia que tenho de ti.

My dewy-eyed Disney bride, what has tried
Swapping your blood with formaldehyde?
Monsters?
Whiskey-plied voices cried, "Fratricide!"
Jesus, don't you know that you could've died
You should've died
With the monsters that talk, monsters that walk the earth

And she's got red lipstick, and a bright pair of shoes
And she's got knee high socks, what to cover a bruise
She's got an old death kit she's been meaning to use
She's got blood in her eyes, in her eyes for you
She's got blood, in her eyes for you

Certain fads, stripes and plaids, singles ads
They run you hot and cold like a rheostat, I mean a thermostat
So you bite on a towel
Hope it won't hurt too bad

My dewy-eyed Disney bride, what has tried
Swapping your blood with formaldehyde?
What monsters that talk, monsters that walk the earth

And she says, "I like long walks and sci-fi movies
If you're six foot tall and East Coast bred
Some lonely night we can get together
And I'm gonna tie your wrists with leather
And drill a tiny hole into your head"
I wanna drill a tiny hole into your head

 

 

 

 

 

 

 

29
Jun22

#3. Please call me, baby

meialaranjainteira

Picture: Sebastião Salgado, Kuwait, 1991 (https://www.theguardian.com/environment/gallery/2016/nov/21/kuwait-a-desert-on-fire-by-sebastiao-salgado)

Voice inside: Tom Waits – Please call me, baby –  The heart of saturday night, 1974 (https://youtu.be/YNJJE7Ci014)

sebastiao salgado.jpg

Há uma sensação libertadora na permissão à sensação da chuva sobre mim. Como se estabelecesse um acordo com cada uma das gotículas– reconheço a sua existência e consinto que me toquem. Há.

Mas há mais ainda.

Há uma sensação de completo abandono à pequenez do que sou, quando me isento de as sentir. Como se cedesse controlo absoluto às agitações que trago dentro. Que são mais fortes, mais extenuantes, mais minhas, mais frias e insistentes … do que a chuva.

E é debaixo de um véu de chuva que não sinto, que te vejo diante de mim. E és ânsia e fogo a crepitar por mais lenha.

E detenho-me, submergida na chuva e em ti.

Fraciono a expiração, prolongada num suspiro, antes da entrega, porque já decidi que vou. Nua e desarmada, eu vou. Mesmo que me queime na perda completa de mim. Mesmo que congele na frieza das tuas palavras. Eu vou. Queimadura de gelo contra a pele nua, mas vou. Vou ligar-te.

  

The evening fell just like a star
Left a trail behind
You spit as you slammed out the door
If this is love we're crazy
As we fight like cats and dogs
But I just know there's got to be more

So please call me, baby
Wherever you are
It's too cold to be out walking in the streets
We do crazy things when we're wounded
Everyone's a bit insane
I don't want you catching your death of cold
Out walking in the rain

I admit that I ain't no angel
I admit that I ain't no saint
I'm selfish and I'm cruel and I'm blind
If I exorcise my devils
Well my angels may leave too
When they leave they're so hard to find

So please call me, baby
Wherever you are
It's too cold to be out walking in the streets
We do crazy things when we're wounded
Everyone's a bit insane
I don't want you catching your death of cold
Out walking in the rain

We're always at each other's throats
It drives me up the wall
Most of the time I'm just blowing off steam
And I wish to God you'd leave me
And I wish to God you'd stay
Life's so different than it is in your dreams

So please call me, baby
Wherever you are
It's too cold to be out walking in the streets
We do crazy things when we're wounded
Everyone's a bit insane
I don't want you catching your death of cold
Out walking in the rain

 

27
Jun22

#2. Mid Air

meialaranjainteira

Picture: Maia Flore (http://maiaflore.com/albums/sleep-elevations/)

 

Voice inside: Paul Buchanan – Mid air – Mid Air, 2012

(https://www.youtube.com/watch?v=EE70AgkeTZc)

 

2. Maia Flore Sleep elevation.jpg

Quando me miras em todos os rostos. E quando me encontras de pálpebras cerradas.

Quando me fixas nas nossas memórias. E quando me deténs em cada suspiro.

Quando me sentes sem que te toque. E quando, mesmo não estando, te abraço inteiro.

 

The buttons on your collar
The color of your hair
I think I see you everywhere

I want to live forever
And watch you dancing in the air

All the lies and make believe
The very things that one day leave
But I can see you standing in mid air

The girl I want to marry
Upon the high trapeze
The day she fell and hurt her knees

And only time can make you
The wind that blows away the leaves

For everything that life was worth
The fallen snow, the virgin birth
Yeah I can see her standing in mid air
I can see you standing in mid air.

23
Jun22

#1. Take me home

meialaranjainteira

Take me home vivian maier.png

Picture:

Vivian Maier, April 7, 1960. Florida (http://www.vivianmaier.com/gallery/street-1/#slide-25)

 

Voice inside:

Tom Waits & Crystal Gayle - Take me home – One from the heart, 1982 (https://www.youtube.com/watch?v=2sglrbx6rVo)

 

De tantas lutas e rendições dentro de mim, emerge uma hipótese. Com a validez e validade que poderão ter outras tantas, similares ou antagónicas…. Este é apenas o cenário que desenho hoje:

 -  Não sei se vivemos uma vida ou mais. Mas se esta não for a única vida, reconheço-te de outras.  Melhor. Não é reconhecimento, é antes a sensação fugaz de ter sido tocada por ti.

Partilhamos de certeza outras vidas e os instantes dessas vidas ficaram de alguma forma impressos nesta que sou hoje. Tão levemente impressos que é necessário que me silencie para que te sinta. Não como és, mas como foste na impressão que deixaste.

Como uma memória recôndita a que queremos aceder, mas que se encontra soterrada por toneladas de outras mais densas, mais ruidosas, mais recentes…. Como um instante rarefeito de um sonho, que fica suspenso no limite ténue do despertar, mas que não cruza a fronteira connosco.

Sinto-os lá. Quase os oiço respirar. Parece-me que, se fechar os olhos e esticar o braço, os encontrarei no prolongamento dos meus dedos. Mas não. É só orvalho. Vapor precipitado numa humidade que sinto na pele, mas que não vejo.

E de repente, acedo à memória ou agarro o fragmento do sonho. Mas não estás lá. Porque as outras vidas ficam nesse lugar que lhes é reservado, fora desta.  E a sensação permanece.

Foi assim com esta música, que havia ficado escondida numa das pregas do tecido de tempo com que faço os meus vestidos. Foi assim. Foi assim que, assim que falaste, ela se insinuou durante dias sem se revelar, para que depois se exibisse gloriosa, ostentosa e inesperadamente num despertar casual. Rindo-se de mim.

Como se a tua voz e o teu discurso a tivessem acordado do torpor a que se havia acomodado aninhada nas malhas do tempo. Desencantaste-a quando me encantavas a mim. E é só delicioso.

Não te reconheço de outras vidas. Mas pressinto que tenhas estado em alguma delas. E, talvez na última, possamos regressar juntos a um lugar comum.

Como um casal de uma vida regressa a casa. Exaustos, mas felizes e cúmplices na sua intimidade. A cabeça dela repousando no ombro relaxado dele. Baloiçando juntos embalados pelos relevos do asfalto.

Take me home.

 

Take me home

you silly boy

put your arms around me

take me home

you silly boy

all the world's not round without you

 

I'm so sorry

that I broke your heart

please don't leave my side

take me home

you silly boy

cause I'm still in love with you

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